Entrevistas C2PO

C2PO entrevista Intercambistas da Sorbonne Université

Desenvolver novas habilidades, enfrentar desafios e mergulhar em uma cultura diferente: essas foram algumas das experiências vividas por um grupo de estudantes de mestrado da Sorbonne Université durante sua passagem pela Universidade de São Paulo (USP).

Por meio de um programa de mobilidade acadêmica realizado entre a Sorbonne Université, a Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e pelo Comprehensive Center for Precision Oncology (C2PO), os estudantes Alanna Dorsey (Estados Unidos), Antoine Voslamber (Alemanha/França), Margaux Beze (França), Shubhdeep Kaur (Índia) e Yaroslava Shevchenko (Ucrânia) passaram seis meses no Brasil — com exceção de Shubhdeep, que permaneceu por um ano. Durante esse período, eles realizaram seus estágios no Centro de Investigação Translacional em Oncologia (CTO) do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) (LIM24 da FMUSP), onde desenvolveram atividades práticas e teóricas.

Os estudantes se dedicaram a projetos desafiantes, aprimorando habilidades em áreas como biologia do câncer, imunologia, bioinformática e análise de dados.

O C2PO perguntou ao grupo com o grupo como a experiência de estudar na USP e morar no Brasil impactou sua formação. Abaixo, os estudantes apresentam seus relatos sobre o programa, o impacto da passagem pela USP em suas trajetórias acadêmicas e os aprendizados pessoais que levarão para o futuro.

 

Alanna Dorsey – Programa de Imunologia

Estudar na USP foi fundamental para o meu caminho em me tornar uma médica-cientista, porque foi o ambiente de treinamento perfeito.
Tive mentoras incríveis, a Dra. Luciana Andrade e a Dra. Renata Saito, que fortaleceram meu pensamento científico e minhas habilidades em planejar experimentos. Elas e todos os outros membros do laboratório eram muito acessíveis, então eu não tinha medo de cometer erros e pedir ajuda. A equipe foi excepcionalmente paciente comigo, descrevendo em detalhes os protocolos, experimentos e resultados até que eu pudesse explicá-los por conta própria. Além disso, as aulas do programa eram bem organizadas para estimular o crescimento das alunas e dos alunos. Foi uma experiência inestimável ter aulas altamente personalizadas e em grupos pequenos com o Professor Chammas e apenas outras quatro estudantes. Eu era nova nas áreas de câncer e imunologia, então foi crucial poder fazer perguntas e verificar minha compreensão com um especialista da área.

Além do treinamento educacional que recebi no laboratório e nas aulas, a experiência de estudar em São Paulo contribuiu muito para o meu desenvolvimento. A humildade cultural é uma prioridade para mim, e espero me tornar uma médica que ofereça um cuidado empático e sensível às diferenças culturais para pessoas de todos os contextos. Portanto, foi inestimável passar meio ano no Brasil, totalmente imersa em uma nova cultura. Havia muitas estudantes e estudantes no laboratório, todos muito amigáveis, que se tornaram grandes amigas e amigos meus. Como íamos ao Bandejão para almoçar todos os dias, eles me apresentaram às tradições brasileiras e me ensinaram frases úteis em português. Guardarei com carinho minhas lembranças de ir com eles a museus de arte e às festas juninas, onde aprendi sobre a arte, a comida e a história do Brasil. Amei explorar a rica cultura brasileira, e as amizades e aprendizados que conquistei foram fundamentais para o meu crescimento pessoal.

No geral, estudar na USP foi o equilíbrio perfeito entre me desafiar em uma nova área e em uma nova cultura, estando em um ambiente acolhedor que se tornou meu novo lar.

 

Antoine Voslamber – Programa de Bioinformática

Meu semestre de intercâmbio na USP foi uma experiência muito interessante e enriquecedora, tanto para o meu desenvolvimento pessoal quanto para minhas habilidades como cientista. Antes de vir para São Paulo, eu nunca tinha estado no Brasil, então a grande mudança cultural em comparação com a França ou a Alemanha significou que precisei aprender a me adaptar a um ambiente completamente diferente. Entre os desafios que precisei superar — e que me fizeram crescer como pessoa — estavam, por exemplo, a barreira da língua, ter que me comunicar em português com pouco ou nenhum conhecimento prévio, e a adaptação a uma cidade estruturada de forma muito diferente da que eu estava acostumado durante toda a minha vida.

A experiência no laboratório e as aulas também me ensinaram habilidades específicas que tenho certeza de que serão úteis no futuro. Graças aos seminários da Escola de Imunologia e às aulas de Biologia do Câncer, aprendi não apenas a acompanhar atentamente apresentações científicas por longos períodos de tempo, mas também a visualizar meus próprios dados e comunicá-los a uma audiência de forma clara. Além disso, a revisão que escrevemos sobre um dos temas dos seminários foi também um excelente treinamento para melhorar minhas habilidades de pesquisa bibliográfica, redação científica e raciocínio.

Outra coisa que meu tempo no Brasil me ensinou é que nem tudo na vida acontece como planejado e que circunstâncias imprevistas podem ser usadas como oportunidades de crescimento. Ao chegar, optei por um laboratório experimental (wet lab). Posteriormente, integrei-me a um subgrupo de bioinformática dirigido pela Dra. Luciana Barros, o que me deu a oportunidade de aprender coisas que provavelmente não teria encontrado caso tivesse permanecido apenas no estágio de laboratório experimental. Dessa forma, pude aprimorar minhas habilidades de análise e visualização de dados e aprender programação em R. Considerando o crescimento do uso de dados de alto rendimento nas ciências biomédicas, especialmente na imunologia, sou muito grato por essa experiência e pelas habilidades que adquiri.

 

Margaux Beze – Programa de Onco-Imuno-Hematologia

Estudar na USP foi um passo decisivo na minha formação acadêmica e profissional. Fazer parte do grupo de onco-imuno-hematologia no ICESP me expôs a um ambiente dinâmico de pesquisa clínica, no qual ciência e cuidado com o paciente estão intimamente conectados. Tive a oportunidade de aprender com supervisores experientes, usufruir de excelentes instalações laboratoriais e participar de projetos que me desafiaram a crescer tanto técnica quanto intelectualmente. O que mais se destacou foi o estilo de orientação: recebi acompanhamento próximo no início, mas gradualmente fui ganhando independência, o que me ajudou a ganhar confiança e desenvolver meu próprio julgamento científico. Paralelamente, também participei de aulas estimulantes, como um journal club com o Professor Chammas, no qual discutimos publicações recentes, e um curso de biologia celular do câncer com estudantes da USP, ambos incentivando o pensamento crítico e a troca científica.

Fora do laboratório, a experiência foi igualmente enriquecedora. Viver em São Paulo foi um desafio no começo, mas logo passei a valorizar sua cultura vibrante, sua vida noturna dinâmica e a acolhida calorosa das pessoas. Viajar pelo Brasil e participar de eventos como o Carnaval me proporcionou uma conexão mais profunda com o país e sua diversidade. Deixo a USP não apenas com maior expertise científica e uma visão mais clara do meu futuro profissional, mas também com amizades significativas e memórias inesquecíveis.

 

Yaroslava Shevchenko – Programa de Imunologia

Minha experiência na USP, em especial o estágio no Centro de Investigação Translacional em Oncologia do ICESP, foi um grande avanço tanto no meu desenvolvimento profissional quanto pessoal. Aceitei o desafio de mergulhar em uma área completamente nova da biologia computacional, e me senti constantemente apoiada e orientada ao longo do processo.

Para mim, essa experiência não se resumiu apenas a um excelente sistema acadêmico (as aulas realmente foram incríveis), mas também a estar em um espaço onde me senti segura para fazer perguntas, apresentar ideias e compartilhar percepções. Os supervisores não estavam apenas ali para ensinar; eles estavam abertos a ouvir, trocar ideias e aprender junto conosco.

Meu tempo no Brasil foi realmente especial, principalmente pelas pessoas incríveis que conheci — muitos deles meus colegas e supervisores. E acho que isso diz muito sobre o lugar. No fim das contas, as pessoas que você encontra ao longo do caminho são uma das partes mais valiosas de qualquer jornada profissional, e é claro que a comunidade da USP e do ICESP realmente entende e valoriza isso.

Agradecimento especial ao Prof. Roger Chammas, ao Dr. Alexis Germán Murillo Carrasco, à Dra. Renata de Freitas Saito e à Dra. Luciana Nogueira de Sousa Andrade, pelo apoio, pela orientação e por tornarem essa experiência tão significativa.

 

Shubdeep Kaur – Programa de Imunologia

Meu tempo na USP, no laboratório do Prof. Roger Chammas, foi uma das experiências mais importantes e formativas da minha trajetória acadêmica. No laboratório, tive a oportunidade de trabalhar em projetos que realmente me fizeram crescer. Eu não estava apenas seguindo instruções; fui incentivada a pensar, a projetar, a fazer perguntas e a buscar soluções quando as coisas não davam certo. Aprendi rapidamente que os experimentos raramente funcionam perfeitamente da primeira vez, e que persistência, paciência e criatividade são tão importantes quanto as habilidades técnicas. O que mais me marcou no laboratório foi a forma aberta como as ideias eram compartilhadas. As discussões nunca eram sobre quem estava “certo”, mas sobre como poderíamos avançar coletivamente a ciência. Esse ambiente me deu confiança para me expressar, compartilhar minhas próprias perspectivas e me envolver mais profundamente com o trabalho.

O acompanhamento da Dra. Luciana Nogueira de Sousa, minha supervisora, e do Prof. Roger Chammas, meu co-supervisor, foi um destaque. Eles não apenas me orientaram tecnicamente; também me incentivaram a pensar no panorama maior, em como a biologia que estávamos explorando se conecta aos pacientes e por que nossas perguntas importam além da bancada. Aprendi que boa ciência não é apenas produzir resultados, mas fazer perguntas significativas e encontrar maneiras de tornar as descobertas úteis para os outros.

Viver em São Paulo e estudar na USP me deu uma nova perspectiva de vida. Adaptar-me a uma nova cultura e a um novo idioma foi desafiador, mas também me tornou mais resiliente. Houve momentos difíceis, desde lidar com a vida cotidiana até lidar com a saudade de casa — mas foram justamente esses momentos que mais me ensinaram. Eles me obrigaram a sair da minha zona de conforto, a encontrar minha própria voz e a abraçar as mudanças com abertura. Também encontrei alegria nas pequenas coisas: compartilhar refeições, explorar a cidade, aprender expressões brasileiras e sentir o calor humano das pessoas ao meu redor. E, acima de tudo, o Brasil é magnificamente belo.

Passei a ter mais confiança em montar experimentos, analisar dados e gerenciar projetos. Mas, mais importante do que isso, cresci como alguém que não tem medo de desafios, que valoriza a colaboração e que entende que a ciência é uma jornada tanto de sucessos quanto de fracassos. Meu tempo no Brasil me trouxe perspectiva; lembrou-me de que a pesquisa não é apenas sobre descobertas isoladas, mas sobre conexões: entre ideias, entre pessoas e entre ciência e sociedade.

De muitas maneiras, a USP me deu as habilidades de que preciso para o futuro, mas também a confiança e a motivação para perseguir a ciência com propósito. Levo comigo não apenas o que aprendi no laboratório, mas também a resiliência, as amizades e as experiências culturais que vieram com a vida no Brasil. Por isso, sempre serei grata.

 

Compartilhe este conteúdo:

Outras Entrevistas

Entrevistas C2PO

C2PO entrevista o Professor Henrique Rinaldi Matheus

O C2PO entrevista o professor Henrique Rinaldi Matheus, da Faculdade de Odontologia da USP, sobre as conexões entre saúde bucal e câncer, com destaque para a periodontite e sua influencia sobre o desenvolvimento tumoral e a resposta a tratamentos oncológicos.

Ler Mais »
Entrevistas C2PO

C2PO entrevista al Dr. Darshak Bhatt

O C2PO entrevista o Dr. Darshak Bhatt, que obteve um duplo PhD pela USP e pela Universidade de Groningen. Ele conta sobre sua experiência nas duas instituições.

Ler Mais »