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Pesquisador que obteve duplo Ph.D. pela Universidade de São Paulo e pela Universidade de Groningen publica sua pesquisa de Doutorado na Scientific Reports

A revista Scientific Reports publicou o artigo “Oncolytic alphavirus-induced extracellular vesicles counteract the immunosuppressive effect of melanoma-derived extracellular vesicles”, cujos autores principais são o Dr. Darshak Bhatt e a Dra. Luciana Nogueira de Sousa Andrade.

O artigo aborda a viroterapia oncolítica, uma forma promissora de tratamento de câncer que utiliza vírus nativos ou geneticamente modificados para infectar e destruir células cancerígenas, associada à pesquisa sobre vesículas extracelulares, que são partículas liberadas por células, envoltas por membrana lipídica, que transportam proteínas, RNA, lipídeos e outras moléculas, e atuam na comunicação entre as células.

Ao C2PO, a Dra. Luciana Andrade explicou que macrófagos e linfócitos estão presentes no tecido tumoral, e que recebem mensagens contidas nas vesículas extracelulares vindas das células tumorais. Eventualmente, essas mensagens sinalizam ao sistema imune que as células cancerígenas não representam perigo ao corpo humano. Porém, com o uso da viroterapia oncolítica é possível modificar as mensagens das vesículas extracelulares, para que o sistema imune combata as células cancerosas. Ainda há pouco conhecimento sobre a comunicação via vesículas extracelulares entre as células tumorais infectadas por vírus oncolíticos com os macrófagos e linfócitos do sistema imune.

Os pesquisadores realizaram a viroterapia oncolítica com  replicons baseados no vírus Semliki Forest (rSFV) para tratar células de melanoma metastático, in vitro. Essas partículas virais  foram produzidas em laboratório, e foram modificadas geneticamente para não serem capazes de formarem novas partículas infecciosas.  sendo portanto uma pesquisa segura do ponto de vista da conduta experimental que seguiu todas as normas de biossegurança

Com a pesquisa, eles demonstraram que as células de melanoma infectadas pelos replicons secretaram vesículas extracelulares com um perfil bioquímico e conteúdo de microRNAs (RNAs pequenos) diferente, que não causam a supressão das células imunológicas induzidas pelo tumor. Os pesquisadores observaram que as vesículas extracelulares advindas de células de melanoma murino têm o potencial de suprimir a proliferação de esplenócitos e induzem macrófagos reguladores que auxiliam a progressão tumoral. Porém, as vesículas extracelulares advindas de células infectadas com o replicon rSFV não produziram esses efeitos. Isso levou os pesquisadores a concluírem que a infecção por rSFV induz mudanças nas propriedades imunomoduladoras das vesículas extracelulares advindas do melanoma que podem desacelerar o crescimento deste tipo de tumor. A pesquisa demonstra a importância do uso de vesículas extracelulares como agentes modificadores do microambiente tumoral, o que pode contribuir para o aumento da eficácia terapêutica, por exemplo.

A Dra. Luciana Andrade pontuou ainda a importância da adjuvância para os tratamentos contra cânceres, isto é, a associação de duas ou mais formas de terapia, de modo a potencializar os efeitos benéficos e alavancar os resultados positivos: a ideia, no futuro, é associar o uso de vesículas extracelulares modificadas, bem como as produzidas em resposta aos replicons, a outras terapias.

O Prof. Roger Chammas comentou sobre o trabalho: “A pesquisa representa um exemplo de aplicação de biotecnologia contra o câncer, pelo uso de vírus geneticamente modificados, e também demonstra que vale a pena tentar decifrar as mensagens contidas nas vesículas extracelulares, um campo promissor. Acima de tudo, a pesquisa reafirma a importância da continuidade da investigação científica para a evolução dos tratamentos.”

O Dr. Darshak Bhatt realiza pesquisas com vírus oncolíticos há mais de 10 anos, e obteve um duplo Ph.D. pela USP e pela Universidade de Groningen. Ele desenvolveu a primeira parte de seu Doutorado no Centro de Investigação Translacional em Oncologia (CTO), complexo de laboratórios sediado no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) e vinculado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). No CTO, ele fez parte do grupo do Prof. Roger Chammas e da Dra. Luciana Andrade. Após os estudos na USP, ele continuou e concluiu o Doutorado na Universidade de Groningen, na Holanda. A tese de Doutorado completa do Dr. Bhatt pode ser acessada pelo site da Groningen University. O Dr. Bhatt concedeu uma entrevista ao C2PO sobre a sua experiência com o duplo Ph.D. e seu tempo na USP.

A Dra. Luciana Andrade realizou seus estudos na USP, da Graduação em Biologia, passando pelo Mestrado, até o Doutorado em Oncologia pela FMUSP. Pesquisadora do CTO do ICESP/FMUSP há 13 anos, ela pesquisa o papel de vesículas extracelulares tumorais no desfecho terapêutico, reprogramação do sistema imune no microambiente tumoral e na progressão de tumores.

O artigo teve como coautores o Prof. Roger Chammas (CTO/ICESP/FMUSP), a Profa. Toos Daemen (Groningen), a Profa. Patricia Pintor Reis (UNESP), o Dr. Alexis Germán Murillo Carrasco (CTO/ICESP/FMUSP), a Dra. Andreia Otake (CTO/ICESP/FMUSP), a Dra. Annemarie Boerma (Groningen) e a Dra. Silvina Odete Bustos (CTO/ICESP/FMUSP).

Em setembro de 2025, os pesquisadores do CTO, liderados pelo Prof. Roger Chammas e pela Dra. Luciana Andrade, irão ministrar um o curso Vesículas Extracelulares em Oncologia: Uma Abordagem de Biologia de Sistemas para estudantes sul-americanos.

 

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